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You`ve got a Friend/Você tem um amigo

You`ve got a Friend/Você tem um amigo

 You've Got A Friend /Você tem um amigo

 

 

A música fala sobre amizade - a relação de amor entre pessoas que se identificam e projetam mutuamente expectativas de satisfação.

 

O amigo ocupa lugares: ora é o pai que protege; ora é a mãe, que cuida; ora é o filho que é protegido e cuidado.

 

Me refiro a projeção psicológica como uma  ação da mente inconsciente que nos leva a ver no outro algo que existe em nosso universo mental. Muitas vezes, pelo fato deste alguém se associar, ainda que subjetivamente, ao conteúdo intrapsíquico. 

 

Por isso, aqui faço referência às entidades psíquicas naturais de nossa mente inconsciente. Assim, a projeção psicológica seria o mecanismo de contato com nossos outros "eus", que por se encontrarem inconscientes, latentes ou desintegrados da totalidade psíquica, ainda que em certo momento, são percebidos como um outro "alguém".

 

Nesta perspectiva, pai, mãe e filho são entidades psíquicas que constituem a dimensão primária de nossa mente, o que Jung (psiquiatra suíço) denominou de arquétipos (tipos arcaícos). Estas entidades psíquicas, são personificações de instintos e como tal são predisposições típicas de atuações em determinados contextos.

 

Na infância cronológica, nosso ego se identifica, predominantemente, como criança-filho. Nosso próprio processo de desenvolvimento biológico nos leva a um tempo maior de dependência dos cuidadores. Comumente a este processo está o desenvolvimento psicológico. Assim, a infância  é o "grande" momento, do arquétipo da criança. O ego (personificação do instinto de identidade) faz conexão com a criança e nesta fase o indivíduo se identifica como tal. Um de seus atributos naturais é ser cuidado e protegido. Nesta fase de desenvolvimento, o pai e a mãe intrapsíquicos, estão latentes. Mas, o Self (personificação do instinto de totalidade) nos faz buscá-lo em algum lugar, como forma de nos sentimos inteiros. Este lugar acaba sendo no mundo externo. Isso acontece, como um processo natural. Se no útero, primeiro hábitat, tínhamos quase tudo que necessitávamos, agora é o mundo externo a  fonte de satisfação. Assim focamos nossa atenção e investimos nossa energia psíquica neste nova realidade, nas pessoas e coisas fora de nós. Assim, inevitavelmente é neste mundo externo que buscaremos nossa "outra metade". Até encontrarmos o caminho de volta e reencontramos com nós mesmos.

 

Por exercerem determinadas funções, pelo menos por um tempo, nós associamos estas pessoas às entidades psíquicas primárias (arquétipos da mãe, pai, filho, etc) ocorrendo aí a projeção psicológica. Enquanto nos identificamos como filhos esperamos que estas pessoas, que receberam a projeção, realizem o que realizaria as entidades psíquicas. Assim naturalmente esperamos da mãe, o acolhimento, o afeto, os cuidados, etc. E do pai, a proteção, o provimento, a castração (limite), etc. 

 

 

Enfim, o pai e mãe - entidades psíquicas, estão latentes e inconscientes. E é no contato interpessoal, com pessoas que exerçam tais funções, que nossa mente reconhece no outro aquilo que existe em si, mas adormecido. É como se encontrássemos nossa outra metade no outro. Aí temos a sensação de que o pai e a mãe são nossos, quando na verdade o que é nossa, é a projeção destes pais intrapsíquicos.

 

Por isso, na presença de determinado papel assumido por alguém tendemos a atuar em outro. Por exemplo, diante uma pessoa que nos provoca o impulso de cuidado nosso ego se identifica como a mãe e vê no outro o filho, ainda que não tomemos consciência desta projeção de papeis.

 

É o contexto que faz manifestar determinada pessoa em nós. Porque mãe, pai, filho, entre outros, primariamente são personificações de instintos.

 

Outro exemplo: Em um contexto de perigo, real ou não, tendemos à fuga ou ao ataque. Isso significa que diante desta percepção, o instinto de defesa se manifesta personificado em uma pessoa específica. Nos percebemos diferentes do habitual e nestes momentos nos tornamos capazes de coisas que desconhecíamos sermos capazes de fazer, como correr uma maratona para fugir do perigo, mesmo sendo sedentários ou atacar alguém que está armado.

 

No que concerne, o desenvolvimento mental, considerando a psicodinâmica projeção - integração psicológica, a amizade é a relação interpessoal que pode favorecer o processo de integração na indetificação de alguns papeis e na projeção de outros. Desde a infância, ensaiamos a transição entre papeis. Por isso que como amigo, somos um pouco pai, mãe e filho o tempo todo. Nosso ego se identifica com todas estas personificações dependendo do contexto. Saímos do lugar específico de filho para nossos pais e tendemos a transitar em vários papeis-funções.

 

Logo, a amizade é fundamental para nosso desenvolvimento psicológico. Porque entre outros benefícios, temos a oportunidade de sermos um pouco de cada coisa.


Quando apenas somos filho-criança, ficamos na eterna dependência do outro. Pois esta é uma das atuações naturais desta entidade psíquica. Mas, se apenas somos mãe, muitas vezes fica difícil se permitir aos cuidados de alguém. Ou se somos apenas o pai, principalmente o pai-protetor, acreditamos não precisarmos da proteção de ninguém e muitas vezes nos tornamos vulneráveis.

 

O ideal é que sejamos inteiros e integrados. E a amizade pode favorecer este processo, desde que sejamos menos egoístas e nos permitamos transitar entre papeis-funções, estando atentos à demanda do outro, aquele que chamamos de amigo.

 

Em que lugar está o personagem da música quando ele diz logo no início:

 

“When you’re down and trubled
ndy ou need some love and care
And nothin’, no nothin’ is goin’ right
Just close your eyes and think of me”

 

 

Quando você estiver abatido, preocupado 
E você precisar de amor e cuidado
E nada, nada estiver dando certo
Apenas feche os olhos e pense em mim”

 

 

Pode ser que ele se refira a um amigo, a alguém de sua relação interpessoal. Mas, possa ser também que ele se refira a ele mesmo, quando em um processo de introspecção ele consiga conexão com a mãe intrapsíquica e assim possa cuidar de si mesmo. O ego, a priori, se identifica com a criança carente de afeto e cuidado. Mas, a posteriori, se identifica também com a mãe acolhedora. 

 

Observe como ele diz “feche os olhos e pense em mim”, que pode ser interpretado como “feche os olhos para o mundo fora, espere menos de alguém fora de você e olhe para dentro e me veja. Eu estou aqui (a mãe) e posso te ajudar”. O seja, a mãe interior pode acolher a criança, quando estamos “abatidos e com problemas".

 

O contato com os nossos diversos "eus", no autocuidado, autoproteção, autoestima não empobrece a relação com o outro, mas enriquece a relação consigo mesmo, favorecendo a diminuição das expectativas demasiadas em relação aos outros, que fazemos quando projetamos nossos “eus”. Favorecendo também a diminuição das decepções, mágoas e laços, desproporcionais,  de dependência.

 

Ser amigo de alguém é ser antes de tudo companheiro de si. Nossas projeções diminuem e com ela as frustrações, na medida em que nos reencontramos e melhorando a relação consigo mesmo.

 

Marcelo Barreto.