Eros versus Narciso - Defesas
Entede-se por Narciso, a personificação dos impulsos egóicos, que elegem o próprio indivíduo como objeto de satisfação. Um padrão específico de funcionamento que personifica o sujeito diferenciando-o das pessoas, coisas e seres da realidade externa. O polo oposto deste funcionamento e personificação está Eros. Nele o indivíduo percebe o mundo externo, as coisas e a realidade exterioro como fonte e meio (objeto) de satisfação. O alvo de Eros é sempre o outro, seu amor é erótico, porque ele depende do outro para se realizar, diferente de Narciso, que quando fálico (poderoso) ele torna-se capaz de gerar no indivíduo o potencial de autossatisfação, autorealização, assim como gera uma autoestima elevada. Entretanto, no processo de maturação psicológica, muitas vezes Eros e Narciso não conseguem um ponto de convergência que os unam. E é na falta de um símbolo, capaz de uní-los, sem indiferenciá-los, que surgem os transtornos narcísicos e eróticos e os sintomas correspondentes.
As experiências de infância fomentam o olhar negativo de narciso infantil em relação ao outro enquanto fonte de satisfação, representante do “sim”. A defesa narcísica contra o “outro” leva eros se defender contra narciso. Narciso argumenta junto ao Ego que o “outro” não é fonte confiável tampouco eficaz de satifação. Por outro lado, Eros contra-argumenta dizendo que se o “outro” não satisfez o sujeito é porque este não é desejável. Esta representação de indesejável abala o autoconceito e a autoimagem fornecidas por Narciso.
E assim o Ego do sujeito passa a representar o “não” do outro de maneira generalizada, como algo pessoal. Representação esta distorcida do “objeto não” que cria uma realidade unilateral, não simbólica.
Nestas situações é necessário refletir a realidade, buscando a validade do que é percebido. No processo reflexivo toma-se contato com os afetos envolvidos e as demandas associadas.
Narciso neste aspecto é criança e demanda proteção e cuidado, isso é tudo que ele deseja garantir. Ele delira persucutarioamente acreditando que o “outro” ameaça a sua existência por isso se defende. O “outro” é uma projeção de “Eros”, arquétipo que representa a diferença, que pode ser outros arquétipos, ou seja, tudo aquilo que narciso não se percebe sendo “ele”. À medida que o “outro”, que pode ser a “mãe interior” satisfaz a demanda de cuidado ou quiçá o “pai interior” satisfaz a demanda de proteção, narciso criança se desarma em relação ao outro e passa a conviver com maior tranquilidade. Por representar o outro de forma diferente, não mais como uma ameaça, mas como objeto necessário na divisão da responsabilidade no que concerne a satisfação do sujeito. Se ele é fonte pontencial de satisfação do sujeito o outro também o é.
Marcelo Barreto