Política e amadurecimento psicológico: Caminhos?
Política e amadurecimento psicológico: Caminhos?
O termo “político”, origina-se do grego politikos, que significa cívico. Por sua vez, politikos origina-se também do grego polites, que significa cidadão, que vem de polis, que significa Cidade ou Estado.
Na Grécia Antiga, o político era o cidadão grego, que se dedicava ao governo da polis, que em tese colocaria os interesses coletivos acima dos interesses pessoais.
Entretanto, nem todos na Grécia eram cidadãos, mas apenas alguns poucos homens atenienses com mais de 21 anos de idade, proprietários de terra. Estavam excluídos da cidadania os estrangeiros, comerciantes, mulheres e crianças, ou seja, a maioria das pessoas.
Hoje todos nós somos “considerados” cidadãos, mas a política continua atendendo os interesses de um seleto grupo de pessoas, que detém o poder político. Paradoxalmente, no regime “democrático” ela continua sendo representativa, já que elegemos os representantes políticos, o que significa que delegamos poderes de governabilidade a uma minoria de pessoas.
Eles representam os interesses da maioria?
Pode ser que sim, pode ser que não. Isso é relativo. Não podemos generalizar, ainda que, perceptivelmente predomine o “não”. O fato é que a política e os políticos representam “sim” a maioria. Não me refiro aqui ao bem-estar coletivo, mas a nossa personalidade coletiva, ao conjunto de valores, ideias e comportamentos. A política e os políticos refletem o que predomina na sociedade e em seus cidadãos. Logo, se há políticos corruptos, porque há um predomínio de corrupção difundido em nossa cultura.
Por isso eu não vejo a “solução” para os nossos problemas coletivos neste ou naquele político, tampouco em partidos políticos. A política e os políticos nada mais são do que reflexo do que predomina na coletividade.
Não discuto política, nem defendo este ou aquele político. Assim me sinto mais livre para observar e intervir naquilo que vejo como um caminho possível a ser investido - o amadurecimento humano pessoal e coletivo, em seus múltiplos aspectos.
Nossas ações são reflexo de nosso nível de amadurecimento geral. E o egoísmo é reflexo disso. Quando o interesse pessoal sobrepõe os interesses coletivos estamos indo de encontro a um aspecto da nossa natureza, que é a necessidade pessoal de viver em grupo. Muitas outras espécies de animais, com a mesma necessidade, demonstram-se mais evoluídos do que a nossa, neste aspecto.
O bem-estar coletivo é tão importante e fundamental quanto o bem-estar pessoal de cada membro do grupo.
Mas, a nossa espécie é conflituosa por natureza, psicologicamente considerando. Temos um impulso que nos direciona à realidade externa, ao mundo externo e outro impulso que nos direciona à realidade interior. Chamemos o primeiro, didaticamente de impulso erótico e o segundo impulso narcísico. O equilíbrio dos dois nos mantém saudáveis, satisfeitos e adaptados às realidades internas e externas, ou seja, ao mundo dentro e fora de nós.
O impulso erótico nos faz voltarmos nossa atenção para o mundo externo e a representa-lo como fonte da satisfação de nossas necessidades e demandas. O “filhote” humano não sobrevive sozinho. Alguém precisa atuar como mãe/pai e satisfazê-lo. Instintivamente compreendemos que para que isso aconteça precisamos do desejo do outro, o que significa sermos também representados como objeto/meio de satisfação do outro. Por isso o filhote humano, além de exigir a satisfação de suas necessidade e demandas com um choro ensurdecedor também seduz com seu sorriso largo e outras “coisinhas” típicas dos bebês.
Instintivamente, como outras espécies de grupo, compreendemos também que para que o mundo externo seja satisfatório, ou seja, que ele permaneça como fonte de satisfação pessoal, nós precisamos preservá-lo como tal e isso significa prezar pela manutenção do bem-estar coletivo. Daí que vem a ideia de sustentabilidade, muitas vezes demagogicamente defendida.
Por sua vez, o impulso narcísico faz com que direcionemos nossa atenção para o mundo interno. Aos poucos vamos percebendo aonde está a fonte de nossos impulsos e necessidades. Nos diferenciamos do mundo externo e percebemos nossa individualidade. E é na infância que percebemos que também somos fontes de satisfação de muitas de nossas demandas. Descobrimos que podemos ser, pelo menos, parcialmente independentes e responsáveis por nós mesmos.
Todavia quando há predomínio do impulso erótico tendemos a ser demasiadamente dependentes do outro e das circunstâncias exteriores. Ficamos reféns dos outros e nos vitimizamos.
Por outro lado, se há um predomínio do impulso narcísico tendemos a ser narcisistas, egoístas, individualistas. Colocamos nossos interesses pessoais acima do coletivo. E quando um narcisista encontra um eroticista, ele vende a imagem de que é solução dos problemas do outro. Seduz e engana. O enganado eroticista se põe de vítima e não faz nada que realmente possa contribuir com a transformação daquele contexto, apenas lamenta e/ou critica.
Somos egoístas ou demasiadamente dependentes quando há um desequilíbrio, reflexo da imaturidade psicológica. Algo não evoluiu ainda, como pode evoluir.
Mas, são os efeitos, as consequências de nossa imaturidade que podem também servir à nossa reflexão para que continuemos evoluindo, amadurecendo.
Nos sentimos tão acima do outros animais a ponto de desconsiderarmos que somos parte integrante da natureza. E o que dizer da cultura?
Termo latino, que se origina do latim "colere", que em seu significado original representa o cultivo agrícola. Por analogia, a cultura passou a representar a transmissão e desenvolvimento de toda produção humana.
Ai aprendemos que o “homem é um ser cultural”, produto do meio. Esta afirmação é verdadeira, porém incompleta. O ser humano é bio-psico-sócio-cultural.
No que se refere a natureza psíquica, a nossa mente é narcísica e erótica, por isso somos naturalmente seres individuais, sociais e capazes de transmitir pela cultura o conjunto de nossas produções artísticas, ideológicas, comportamentais, valorativas, etc.
Somos mais do que nos definimos ser e menos do que a nossa vaidade, do tipo nociva, deseja compensar em termos de superioridade existencial.
E se a política é um instrumento poderoso, que quando “mal” usado é nocivo. A cultura também pode ser quando reflete nossa imaturidade pessoal e coletiva.
Por isso mesmo, que é prudente refletirmos com abertura, com esforço para nos abnegarmos de partidarismos políticos ou ideologismos e ampliarmos assim nossa capacidade de ver, julgar e agir.
Assim considerando, eu não vejo a política como a causa nem a solução de nossos males, ela é um reflexo cultural.
Se colhemos o que plantamos aceitemos, deste modo, a colheita como um reflexo daquilo que ainda somos-estamos. Se quisermos mudanças efetivas e para melhor, invistamos efetivamente em amadurecimento pessoal e coletivo.
Por isso não perco tempo discutindo política, futebol e religião, pois considero ineficaz.
Quando vejo pessoas apaixonadamente discutindo estes temas, me pergunto: O que elas querem com isso?
O que chamam discussão vejo como um bate-boca desnecessário, desperdício de energia psíquica e calórica.
Não querem refletir, querem impor suas perspectivas apaixonadas ao ponto de se cegarem, de se alienarem.
Ao ponto de não fazer mais diferença entre partido político, time de futebol e religião.
Quando o compromisso destes se desvia do sentido original para o poder pelo poder vemos a política desconectada com a manutenção da bem-estar comum, o time de futebol desconectado com o esporte e a religião desconectada com a religiosidade.
Cada vez mais eu vejo que é mais útil e proveitoso investir no desenvolvimento humano, contribuir de algum modo com o amadurecimento pessoal e coletivo, nem que seja, escrevendo como faço agora, refletindo e atuando no sentindo daquilo que acredito como um caminho possível – o amadurecimento.
Não falo como a pessoa mais madura do mundo, pois passo longe disso, mas como alguém que tem refletido e feito esforços em investir em amadurecimento.
Marcelo Barreto.